Salão de Beleza: Contratar MEI é a Solução Certa?

Se você é proprietário de um salão de beleza, barbearia, ou clínica de estética, ou mesmo um profissional como cabeleireiro, manicure, maquiador, esteticista atuando como MEI (Microempreendedor Individual), provavelmente já se deparou com dúvidas sobre a melhor forma de trabalhar. A flexibilidade do MEI parece uma solução perfeita para muitos, mas será que é sempre a saída ideal para o setor da beleza?

A resposta está na Lei do Salão Parceiro (Lei nº 13.352/2016), criada justamente para formalizar essas relações e trazer segurança jurídica para salões e profissionais.

 

O Que é a Lei do Salão Parceiro e Como Ela Ajuda?

 

Antes de 2016, a relação entre salões e profissionais parceiros era uma zona cinzenta, cheia de riscos de serem consideradas "emprego" pela Justiça do Trabalho, mesmo que as partes quisessem ser parceiras.

A Lei do Salão Parceiro surgiu para mudar isso. Ela permite que o salão de beleza (o "salão-parceiro") e os profissionais (como cabeleireiros, barbeiros, esteticistas, manicures, depiladores, maquiadores e pedicures, que são os "profissionais-parceiros") estabeleçam uma parceria formal por meio de um contrato por escrito. Esse contrato define as regras do jogo: a divisão de valores, as responsabilidades de cada um, a possibilidade de usar equipamentos e instalações do salão, e a autonomia do profissional.

 

MEI no Salão Parceiro: Uma Vantagem, Mas Com Cuidados!

 

O MEI é uma das formas mais comuns para o profissional parceiro se formalizar, pois oferece um regime tributário simplificado e de baixo custo. Quando a parceria é feita com um profissional MEI, ela deve seguir as regras da Lei do Salão Parceiro e também as do Microempreendedor Individual.

A grande vantagem para o salão é a redução de encargos trabalhistas (FGTS, INSS patronal, 13º salário, férias, etc.), já que o profissional MEI não é seu empregado. Para o profissional, é a autonomia, a flexibilidade e a formalização do seu trabalho.

Mas ATENÇÃO: Para que essa relação de parceria seja válida e não se transforme em um problema trabalhista no futuro, é crucial que ela seja uma parceria de verdade, e não um "disfarce" para um vínculo de emprego.

 

Como Garantir Uma Parceria Segura e Evitar Problemas?

 

O segredo está em seguir a Lei à risca e garantir que a relação não tenha as características de um emprego tradicional. Os pontos essenciais são:

  1. Contrato de Parceria Escrito e Registrado: É obrigatório que haja um contrato claro, assinado por ambas as partes e homologado (aprovado) pelo Sindicato da categoria (patronal e profissional, se houver). Esse contrato deve detalhar a cota-parte de cada um (o percentual que fica com o salão e com o profissional), as condições de trabalho, etc.

  2. Autonomia do Profissional: O profissional MEI deve ter autonomia para realizar seu trabalho. Ele não pode ter:

    • Subordinação: Não pode haver ordens diretas sobre como ou quando fazer o serviço, fiscalização excessiva de horários ou punições como as de um empregado.

    • Pessoalidade: O serviço não precisa ser feito somente por aquele profissional. Em tese, ele poderia mandar outra pessoa, se estivesse impedido (ainda que na prática isso seja raro, é um indicativo legal).

    • Habitualidade Rígida: Embora possa trabalhar regularmente no salão, o controle de jornada rígido, com horários fixos e obrigatórios, pode descaracterizar a parceria.

    • Remuneração Fixa (Salário): A remuneração deve ser proporcional aos serviços prestados (cota-parte), não um salário fixo mensal, independentemente da produção.

 

Os Riscos de Uma Parceria Mal Estruturada

 

Se a parceria com o MEI não seguir as regras da lei e, na prática, o profissional for tratado como um empregado (com subordinação, horário fixo, metas, exclusividade e salário), o salão corre um sério risco. A Justiça do Trabalho pode desconsiderar o contrato de parceria e reconhecer o vínculo empregatício.

Isso significa que o salão pode ser obrigado a pagar todos os direitos que não foram recolhidos durante o período de "parceria", como:

  • Férias + 1/3

  • 13º salário

  • FGTS

  • Aviso prévio

  • Horas extras

  • Multas e juros

Além dos valores a serem pagos, há o custo do processo judicial e o desgaste da imagem do salão.

 

Como Agir Para Ter Segurança e Tranquilidade?

 

Tanto para o proprietário do salão quanto para o profissional MEI, a chave é o conhecimento e a formalização correta.

  • Para o Salão: É fundamental ter um contrato de parceria bem elaborado e respeitar as condições que diferenciam a parceria do vínculo de emprego. A consultoria de um advogado especializado é essencial para evitar armadilhas e garantir que toda a documentação esteja em ordem.

  • Para o Profissional MEI: É importante entender seus direitos e deveres, e buscar esclarecimentos se sentir que sua autonomia não está sendo respeitada.

Não deixe que a informalidade ou o desconhecimento ponham em risco seu negócio ou seus direitos. Uma parceria bem feita é sinônimo de segurança e prosperidade para todos.

 


Informação importante: Este artigo tem caráter meramente informativo e educacional, não constituindo aconselhamento jurídico ou contábil. Em caso de dúvidas sobre seu caso específico, procure sempre a orientação de um profissional do direito.